Protagonismo LGBTQIA+ se destaca na defesa dos manguezais na Amazônia

O ARAYARA Amazon Climate Hub iniciou nesta quinta-feira (20) sua programação com o painel “Protagonismo LGBTQIA+ na defesa dos Manguezais no Estado do Pará”, reunindo representantes de redes e organizações amazônidas para debater a proteção ambiental e a preservação cultural na região.

O evento trouxe relatos de jovens e lideranças que enfrentam desafios diários enquanto lutam pelo reconhecimento e pela inclusão da população LGBTQIA+ em territórios amazônicos.

O painel reforçou que o protagonismo LGBTQIA+ não é apenas essencial para a defesa dos manguezais e da Amazônia, mas também para garantir que políticas climáticas e sociais sejam verdadeiramente inclusivas, representando todas as comunidades que vivem, resistem e preservam a floresta.

Defesa e mapeamento dos territórios


Jarê Aikyry, pessoa trans masculina indígena da Ilha de Colares, compartilhou sua experiência como mestrando e integrante e diretor executivo do Engajamundo. “Sou do território da Ilha de Colares, que vive em constante conexão com outras cidades do Pará. Tenho atuado em processos de mapeamento que revelam informações essenciais sobre nossos territórios, muitas vezes esquecidos. Esses dados são fundamentais e podem ser usados para a defesa, captação de recursos e financiamento de projetos”, afirmou.

Ele destacou ainda a necessidade de políticas inclusivas e do reconhecimento da população LGBTQIA+ na agenda climática: “Nos espaços da COP, não temos garantias de que políticas climáticas considerem as comunidades LGBTQIA+ como grupos vulneráveis. Precisamos ser reconhecidos como defensores e defensoras dos territórios — cuidando das nossas famílias, das nossas comunidades e da nossa Amazônia.”

Vulnerabilidade e resistência em territórios pequenos


Bruma Itala Ferreira falou sobre a realidade da sua ilha: “Nossa ilha é pequena, mas geograficamente estratégica. É rica em biodiversidade e tem forte atividade pesqueira, mas não vemos políticas de cuidado, apenas o avanço da indústria fóssil. Muitos precisam deixar a ilha para sobreviver, e a população LGBT sofre violência histórico”.

Ela destacou ainda a necessidade de fortalecer conhecimento técnico e científico para defender o território e criar iniciativas como reservas extrativistas.

Empoderamento e diversidade


Gê Monteiro, pessoa não binária, contou que encontrou na Rede Cuíra um espaço de liberdade e aprendizado: “Sempre enfrentei críticas por ser não binária, mas ao transitar por espaços como este, pude conhecer pessoas diversas e me fortalecer. Sempre me identifiquei com o feminismo, e articular essa agenda com o movimento LGBTQIA+ é fundamental, porque historicamente fomos silenciadas.”

Venelope Penante, mulher trans da Ilha do Marajó, compartilhou sua trajetória pessoal e política: “Cresci em um território tradicional e recentemente consegui ser reconhecida oficialmente como a primeira mulher trans do meu município a retificar os documentos. Foi uma vitória gigantesca. Estar na Rede Cuíra me permitiu fortalecer o cuidado com a natureza e com a minha comunidade, além de aprender sobre engajamento juvenil, extrativismo e defesa de direitos. Mesmo diante de retrocessos, como a proibição do uso do pronome neutro em espaços institucionais recentemente anunciada pelo presidente Lula, não seremos silenciadas. Continuaremos resistindo e reivindicando nossos direitos.”

Ativismo institucional e inclusão


Representantes da ARAYARA reforçaram o compromisso da instituição com a diversidade e a luta socioambiental. John Wurdig, gerente de Transição Energética e homem gay ex-cadeirante, declarou: “Precisamos ter consciência de que a vida e os corpos das pessoas também são parte do ativismo”.

Sara Ribeiro, gerente de Relações Institucionais e Especial COP 30, destacou a importância de espaços como este: “Tenho orgulho de ser LGBT e trabalhar em uma instituição que valoriza essa diversidade. Muitas pessoas na luta climática também são LGBTQIA+. Hoje, no Dia da Consciência Negra, reforçamos a necessidade de unir forças contra o racismo ambiental, a LGBTfobia e outras formas de discriminação”.

A coordenadora de Comunicação, Luz Dornelles, que é não binária, e o analista de TI, Lucas Barros, também compartilharam suas trajetórias, reforçando como o reconhecimento da diversidade é essencial para a inclusão e representatividade nos debates climáticos e socioambientais.

Um espaço de acolhimento


O mediador Erivelton resumiu o clima do evento: “Aqui encontramos um espaço de segurança e acolhimento. Agradeço a cada pessoa que se dispôs a estar presente. Que nossa parceria com a ARAYARA siga fortalecida e se perpetue por muitos anos”.

Foto: Oruê Brasileiro/ ARAYARA

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